"Aí ele chega, tão lindo. E vai embora, tão feio. E liga, tão bobo. E some, tão especial. E eu morro, ainda que não ligue a mínima. E eu tô nem aí, ainda que pense o tempo todo em não estar nem aí. E eu abro a porta, a perna, a alma. E quanto mais abro tudo, mais me fecho. E sigo intacta, ainda que toda esburacada. E tenho a plena certeza que cometo o maior erro do ano, ainda que eu não duvide que todos os acertos são mesmo feitos assim: quando a loucura nos vence de alguma forma.
Depois, no dia seguinte, lá vem a ressaca. Sempre. Adoro minhas dancinhas e gracinhas e loucurinhas. Mas no dia seguinte acordo e me pergunto: por que é que você não faz cara de paisagem e permanece fina e permanece intocável? Por que é que você não consegue ser difícil, escrota e blasé? Adoro que a Grazi apareceu com seu vestido vermelho colante de couro por dez minutos e foi embora. Por que é que eu não vou embora? Aí a música começa e quando vou ver já imitei o Michael Jackson, a Madonna e o Tiririca, porque adoro me trair e estragar tudo. E todo mundo ri, mas ninguém me leva a sério. Mas será que quero? Mas será que alguém leva alguma coisa a sério?"
(pedaços emprestados, outra vez, da
Tati Bernardi)