segunda-feira, novembro 02, 2009

A Maçã

Eu sabia que tinha o tempo de um jantar pra explodir. No entanto, continuei calada, quando a vontade era de me contorcer toda e te arrancar uma surpresa, um apertão, um sim ou não. Talvez eu estivesse ali pra me despedir, ou testar essa alegria que me tomou inteira nos últimos dias, não consigo saber. Sei que preciso te pedir pra ficar mais um pouco, pra ficar mais, pra ficar sempre, mesmo longe com intoxicação alimentar. Nunca sei se estamos. A maçã, eu deveria ter mordido antes de te entregar, pra você medir o tamanho da minha boca, da minha fome. Mas até as maçãs ao teu lado me emudecem. Por quê? Porque se eu fosse uma maçã, teria a casca tão espessa que só dentes bem afiados chegariam à carne. Maçãs como eu não servem pra serem roídas aos poucos, por dentes mornos, numa degustação frágil e cheia de abismos. Quero, de presente de aniversário, que você me conte: de que tipo são seus dentes?