mais do mesmo
Ela chegou em casa com a comida comprada pra dois, viu a marca no tapete. Ouviu na sala a mesma música insistente dos últimos meses. A tela do computador ainda guardava aberto um email. Nada de estranho, nada de novo. Soube que ele havia partido como quem sai para um dia de trabalho. Viu a água suja na banheira, o banheiro ainda quente, névoa da tarde fria. O espelho esfumaçado quase que ainda refletia aquela barba rala. Suspirou (aliviada?). Não derrubou uma lágrima sequer. Percorreu toda a casa atrás de um sinal mas não, ele só fez questão de deixar provas da ausência: a roupa por lavar, a louça na pia. Não se preocupou com bilhetes, com recados, evitou a despedida.
Ela demorou a ser acostumar, o que lhe fez mais falta foi a presença, foi saber que ele estava lá, que um abraço quente a esperava, que havia algum carinho guardado para receber. Pois sim, esteve tão guardado que venceu.
Ele levou consigo o impalpável: levou o riso e as lágrimas, levou todo o sentimento e algum traço de dúvida. Levou também parte de uma vida, quis apagar aquela existência. Fechou a porta, rumo ao novo. Queria algo leve.
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