Mimi e Cocó
Eu sei que a gente é amiga porque vira-e-mexe a gente precisa se ver. Não é todo dia. É uma vez ou outra, porque a amizade compreende as diferenças. E quando dá pra gente se encontrar, é uma alegria só, mesmo que cada uma chore as pitangas na sua vez de falar.
Eu sei que a gente é amiga porque aos seis anos de idade isso já era verdade. E criança não mente sobre o que sente. Ela era cumprida e eu era uma bola. E a gente já era feliz, mas mesmo assim chorava as pitangas.
Ela me abre a casa se eu bater na porta de madrugada, e também abre um sorriso quando eu me sinto feliz. Por isso eu sei que ela é mesmo minha amiga. E eu a entenderia se ela quisesse abrir o berreiro durante o show do Chico Buarque ou se ela quisesse ir de mala e cuia para o Peru e voltar no dia seguinte. Por isso ela sabe que eu sou amiga dela também.
E eu já tentei fazer um milhão e meio de poesias pra ela. Mas fracassei. Não tem métrica que abrace uma amizade. E não existe liberdade organizada. Está tudo no ar, no espaço de ontem, nas cartas antigas, nas salas de aula, nos medos de hoje. Está tudo ali perto da Av. Paulista, da Vila Mariana, da Bahia de Jorge Amado, da voz de Maria Rita. Está tudo no nosso universo escrito, no nosso universo calado e no nosso universo líquido.
E eu sei que a gente é amiga porque a gente vira uma dose de pinga e não faz cara feia. Depois volta pra casa, ora sorrindo e ora chorando as pitangas.
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