terça-feira, agosto 29, 2006

no lugar certo

Não me arrependo de ter silenciado, virado o rosto e me afastado. Foi pra encarar a luz da lua que entrava pela janela, e clareava com um tom leitoso os outros momentos, capturados de outra forma. O mesmo tom, se assim posso dizer, que o rádio emprestava ao ritmo das mãos nervosas que me puxavam o braço. Sei que me virei, e sorri; mas voltei apressada à posição inicial, minha alegria era tanta que estaria diluída na atmosfera, não precisava de palavras (não há palavras para traduzi-la com precisão – é a diferença entre ouvir uma música ou ler a letra). Atentamente, os olhos foram registrando cada detalhe do quarto: uma falha na parede, um disco afastado da pilha, o encaixe do abajur, um grampo ao lado da cama, o caderno, os livros... e apesar de estar tudo lá, tão concretamente; nenhuma presença era mais concreta que o bloco do seu corpo – por que além da matéria, seja lá qual for, havia o calor, e o toque das minhas mãos no seu cabelo. Pude ouvir o ar, que agora tanto invejo (por saber de caminhos onde nunca estive). Felizmente guardei o momento e posso afirmar: foi o nosso melhor momento. Haverão outros, eu sei, e também serão intensos. Mas mesmo que sejam plenos; nunca como naquele instante. Pelo prazer do segredo, e da amizade.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ouié!!

30/8/06 16:36

 

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